A água mantém-se viva em resultado do seu fluxo. A água que se movimenta completa ciclos, equilibra e nutre o ecossistema. Agora pense na água parada ou estagnada. O que nutre ela?
Assim é com a nossa vida. Se interromper-mos o fluxo natural das situações, acabamos por estagnar e cristalizar na situação, na opinião, na nossa evolução da personalidade e do nosso caminho pessoal/espiritual.
O fluxo da água é o fluxo do equilíbrio. Sem equilíbrio, sem essa ordem natural, dá-se o caos. O caos remete-nos para a imagem da água estagnada e turva, mais uma vez.
Saber gerir fluxos é, igualmente, saber compreender a necessidade do desprendimento. Como tudo é um fluxo, aquele que segue o pensamento taoista procura não se prender excessivamente a coisa alguma. É o apego às coisas e a ausência do desprendimento que criam em nós limitações e angústias. Ser como a água é ser desprovido de tais constrangimentos.
Ainda que não seja sobre a água, recordo a seguinte parábola a respeito do desprendimento e do não apego. A parábola, de forma reduzida, seria mais ou menos assim:
A um velho homem que se encontrava do funeral do seu único filho foi feita a seguinte pergunta: “Mas porque você não chora? O seu único filho morreu e está aí impávido e sereno? Não o amava?”
Ao que o homem disse: “Amei este filho a cada segundo da sua existência e tanta felicidade ele me trouxe. Porém, antes dele ter nascido não poderia estar triste, uma vez que ele não existia. Deste modo a partir de agora não poderei ficar triste, justamente porque ele já não existe”.
A água ensina-nos ainda outra importante lição: a humildade. A água fica onde ninguém quer ficar, em baixo. Ela beneficia sem escolher, todos os seres, ela nutre e irriga a terra sem se fazer valer do seu estatuto. Assim, um grande somatório de água, como seja um oceano, é um palco de recetividade e de nutrição.
Por fim, não nos podemos esquecer da lição de unicidade. A água que tudo nutre, é a mesma água que está por todo o lado, que não escolhe a quem sacia a sede. Esta água é a eterna água que sempre existiu desde o início do planeta, a água que contém a memória deste, que tudo une, que nada isola e nada admite fora do todo. Assim, sejamos como a água, discretos, seguindo a nossa missão, acolhendo todos, adaptando-nos, fluindo, por forma a todos beneficiar.
Sejamos como a água.
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